Onde estamos e pra onde queremos ir?

As Tarifas caíram. Em várias cidades. Com ela, caiu parte da máscara hipócrita de governantes, que até minutos antes de baixarem, diziam que não tinha como baixar. Pra piorar, os mais hipócritas deram aumento salarial a si mesmos e seus secretários e chegados meses atrás, num custo total relatado pela FSP como de 203 milhões de reais, valor próximo do que se diz que se perderá com a revogação dos R0,20.

Então se eles tão pensando e rezando, na solidão do banheiro, que com a revogação dos aumentos a manifestação vai parar, tenho certeza que não vai. São cerca de 250 mil que disseram no facebook que iam as ruas hoje em São Paulo, e uma multidão está de fato lá enquanto posto isso aqui. E foram muitos nesta semana, em várias cidades e feudos do país. Tão inclusive dizendo que nesse momento há manifestações em mais de cem cidades!

E aí tem duas coisas misturadas, um movimento social (O Passe Livre) e uma revolta popular. O primeiro é organizado, tem objetivo claro e sabe exatamente onde quer chegar e qual o caminho que pretende seguir. O segundo é imprevisível e incontrolável, e eclodiu do espaço aberto pelo primeiro. Se você sentir que é recém chegado e faz parte do segundo, cuidado. Recomendo que comece assistindo aos jovens do MPL no programa Roda Viva da TV Cultura e entenda um pouco melhor sobre o movimento social que está pautando a política brasileira no momento. Depois que tiver melhor informado sobre o movimento, te convido a refletir sobre a revolta.

A união dos dois forma uma pororoca que tá arrastando a crise brasileira – e crise pode ser visto simultaneamente como perigo ou oportunidade. A bagunça que toma as ruas é rotulada de “baderna” por Datenas e afins, e como “revolução” por muitos que estão lá nas ruas, caminhando, marchando, protestanto e, eventualmente enfrentando a repressão polícial, aplaudida pelos amantes da ordem – e do progresso também.

Mas essa “revolução” tá muito confusa, dizem. A variedade de causas revela uma suposta amplidão excessiva, e âncoras de TV atrapalhados dizem que os jovens estão na rua reclamando de tudo. É verdade. São na maioria jovens e tão reclamando de tudo. Mas isso não é igual a reclamar de nada, como defendem alguns. Confuso? Como disse um amigo no facebook, “quem não tá confuso, tá mal informado”. E outro que lançou um aviso ainda mais importante: “cuidado, pra barco sem rumo até o inferno é destino”. Ou seja, povo nas ruas não significa necessariamente que uma causa popular esteja crescendo. Então o povo que quer tem que ir pras ruas, porque democracia é assim. Mas também tem que refletir sobre o que exatamente tá fazendo ali.

Porque os titereiros que manipulam as tropas policiais e a mídia não são burros. São na verdade excelentes estrategistas e estão Imagetotalmente concentrados em se manter no poder, onde estão há muito tempo, manipulando parte da população a apoiar algo que ela não quer, mas não se dá conta. Não conheço explicação melhor do que a Revolução dos Bichos, de Geroge Orwell. Pra quem não conhece, é a história de uma fazenda onde os animais se dão conta da situação absurda de suas vidas oprimidas e controladas pelos humanos. Fazem uma revolta e tomam o controle da fazenda. Quem lidera são os porcos, e em pouco tempo os outros animais se dão conta que pra eles não deu muita diferença entre ter os humanos ou os porcos no poder. Os animais se fragmentam, com cada espécie achando que as outras não prestam, e por aí vai, sem que se consiga atingir um estado de harmonia na fazenda.

Tem muito porco no Brasil. E as estratégias suínas são variadas. Não caia nelas. Não se engane. Não seja papagaio. Com a velocidade da internet, é muito fácil repassar um meme sem refletir antes. Pense antes de clicar. As figuras abaixo ilustram algumas das estratégias suínas correndo no facebook e no twitter. Comparar Dilma com Collor. Dizer que o problema é que o brasileiro não sabe votar. Ou que a culpa é dos partidos. Ou ainda que o problema é a corrupção.

Não se deixe convencer de que você vota "errado" e é culpado pela merda. Pra começar, o cardápio de candidatos não contempla todas as opções e causas possíveis (que candidato é a favor da legalização das drogas?!?) mas você é obrigado a votar.

Não se deixe convencer de que você vota “errado” e é culpado pela merda. Pra começar, o cardápio de candidatos não contempla todas as opções e causas possíveis (que candidato é a favor da legalização das drogas?!?) mas você é obrigado a votar.

Nao caia no conto de que o problema é um politico em questão. Saiu o Collor, entrou o Vice, Itamar. Parou a corrupção?!?

Nao caia no conto de que o problema é um politico em questão. Saiu o Collor, entrou o Vice, Itamar. Parou a corrupção?!? Quem é o vice da Dilma?

Não é nada disso. Abram os olhos, fiquem atentos. A corrupção é UM problema. Mas não é O problema. Nem pra manifestação do Passe Livre, nem pra revolta popular. Porque o problema existe mesmo se não houvesse corrupção. E existirá mesmo que votemos supostamente “certo”. O problema é o SISTEMA. E antes de me xingarem porque dizer isso soa tão genérico e vago que no fim não diz nada, vou logo definindo o que quero dizer com o termo sistema: tô falando da nossa estrutura de organização social, hierárquica e autoritária. Esse sistema é cristalinamente traduzido na metáfora do 1% contra os 99%. Ou na imagem da pirâmide. A sociedade mundial está organizada numa estrutura piramidal. Neste esquema, poucos tem muito, e muitos tem pouco. E isso não é assim porque corromperam o sistema. Não temos um abismo social por causa da corrupção. A corrupção apenas aumenta isso. Mas o abismo foi planejado e arquitetado pelos criadores do sistema. Estamos jogando banco imobiliário, e a partida tá perto do fim, porque os 99% que tão perdendo não querem mais jogar, tão de saco cheio, alguns tão realmente possessos (nas periferias, com toda razão). Mas porcos de vários tipos vão querer começar outra partida do mesmo jogo, pra continuar ganhando ou pra tentar ganhar. Aos demais, resta jogar outra vez querendo ser porco, ou propor outro jogo! Aí é que São Paulo se conecta com o Maranhão, com a Praça Gezi na Turquia, a Puerta del Sol na Espanha e outros pontos do globo.Image

Esta estrutura e sistema piramidal são o tabuleiro e as regras do jogo. E todas as reinvidicações que vejo por aí são contra a pirâmide – com excessão das suínas, que disfarçadamente veneram a estrutura piramidal. Por isso não acho o movimento sem rumo, nem ingênuo e nem amplo demais. Todas essas críticas são, na verdade, estratégias suínas pra já começar a próxima partida -com as mesmas regras e objetivos.

Então se você tiver confuso se perguntando que diabos cura gay, ato médico, PEC 33, PEC 215, PEC 37, Copa, Pelé e mensalão tem em comum, minha resposta é: a lógica piramidal. Se ao contrário, você não se sentir confuso e tiver certeza de que alguma dessas coisas é solução, muito provavelmente você está jogando como um porco. O que tá em curso no Brasil e no mundo é o aprofundamento escancarado desta lógica piramidal por parte dos políticos-empresários suínos, que são absurdamente abastados. E pretendem ampliar ainda mais o fosso abismal entre o 1% e o 99%, rumando para 0,1% e 99,9% e assim por diante.

É isso que o auto-aumento salarial do Governador de São Paulo escancara. Os porcos tão pegando mais dinheiro para si mesmos (de novo), enquanto abaixaram a tarifa do transporte dos outros animais dizendo que a grana vai ter que sair de algum outro lugar que não os bolsos suínos. Ou seja, eles abaixaram a tarifa, mas dizendo que quem paga continuará pagando (todos os demais animais), e quem lucra continuará lucrando (apenas os porcos). Estão tentando satisfazer os demais animais com uma ilusão (e pelo que vi no roda viva, o MPL não é trouxa e não vai cair nessa).

Portanto, quando você se deparar com alguma causa, pergunte-se se aquilo é piramidal ou se não é. Impeachment vai levar ao que? Trocar a Dilma pelo Temer. Vai resolver? Não, lógico que não vai. A pirâmide vai continuar ali, em pleno funcionamento. Na real pode até piorar… Por outro lado, quando você encontrar algo que não parece piramidal, minha dica é: presta atenção nisso e examina a fundo. Não compartilha antes de estudar o troço, com toda a melhor capacidade que você tiver. Na dúvida, conversa com quem tá postando/dizendo/sustentando o cartaz e defendendo aquilo. Até ficar claro se é ou não é uma estratégia piramidal. Se é coisa do 1% ou do 99%. E toma muito cuidado, pq o 1% é muito hábil em vestir as roupas do 99%. Eles são porcos, mas vestem fantasias de outros animais (alguns inclusive não se dão conta que tão fantasiados, não sabem que, na verdade, são porcos). Se você tiver certeza que não é coisa de porco, compartilha!

E se você leu até aqui e tiver se perguntando, mas que porra podemos fazer de diferente da pirâmide? A resposta é: uma rede. O Movimento Passe livre é uma rede. Não tem líder. Tem um grupo que organiza, claro, de umas 50 pessoas. Mas eles não se organizam hierarquicamente. Se organizam horizontalmente. Não tem presidente nem vice lá dentro. Não tem uns mandando nos outros. Tem debate, conversa, diálogo buscando entendimento. A internet é uma rede. E por isso que ela é tão FODA. E por isso que os porcos tentam coisas como PIPA e SOPA. Pra tentar transformar a rede numa pirâmide e controlar ela. É claro, coisas como o Google dão uma certa piramidalizada na rede, pq ele é um hub tão crucial e tão acessado, que ele verticaliza um pouco a internet. Mas ao mesmo tempo ele permite e direciona o tráfego horizontalmente. É ambíguo, então também tem que ficar esperto. Mas é muito mais democrático do que pirâmides. Pirâmide, aliás, é a característica fundamental de todo exército e toda organização militar.

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Então, rede não quer dizer sem líder – nem sem partido, cuidado com os porcos! Rede quer dizer menos poder pro 1% e mais pros 99%. Rede quer dizer coisas mais distribuídas e localizadas. É o contrário de Brasília, que concentra muito poder do Brasilzão lá no centro, longe das comunidades. E fica ditando a distância onde deve ter hidrelétrica, o que fazer com os índios, quem vai mandar na medicina, quem vai mandar na produção de comida, qual o preço do combustível e do busão, como pode e como não pode tudo. Claro, há os governos locais, mas também são igualmente concentrados e isolados nos seus próprios palácios feudais. Os porcos tão no topo das pirâmides chafurdando. Aos que reclamam: bombas, gás, balas de borracha (as vezes balas de metal mesmo) e prisões, muitas vezes de maneira ilegal. Nada mais hierárquico, brutal, rígido e piramidal do que operações militares que atropleam a constituição!

É nesse ponto que, se formos contemplar o que tá rolando, nas ruas e na internet, pensando numa eventual e ampla re-forma política brasileira, a se iniciar nas ruas e se comunicar na internet, conectada ao contexto global, a violência se torna o X da questão. Porque os porcos são violentos, e estão esperando algum outro animal qualquer ser violento pra então justificar a violência suína, aterrorizar todas as espécies e apagar qualquer nova tentativa de revolução, igualzinho ao que faziam os fazendeiros que os antecederam e outros porcos que já estiveram ali no topo.

Então, se você tá puto e achando que o vandalismo tá se tornando um direito, calma. Violência agora vai esvaziar o movimento e fortalecer os porcos (que vão aplaudir e incentivar seu vandalismo). Porque tem muita gente indisposta a partir pra porrada. Gente que tá muito insatisfeita, muito mesmo, mas prefere insatisfação em casa do que sangue, fogo e pancadaria na rua. E tem também os perdidos e indecisos. Esses são os alvos da propaganda suína, que vai tentar convencê-los de que a violência suína é a melhor e mais ordeira opção. Com medo, muitos vão cair nessa. Então não ajude os porcos e não parta pra violência nem pra depredação.

Se queremos que o movimento em prol da rede e contra a pirâmide cresça, entendo que precisa sim ser, como tem sido até certo ponto, sem violência. Mas sem violência não significa sem energia, sem combatividade, sem coragem. Não significa passeatas caretas verde-amarelo com crianças no colo. Não, não é disso que precisamos. Deixem as crianças em casa, porque as passeatas são tensas. São iradas. Mas não são raivosas. Raiva é aquele sentimento que corrompe por dentro, irmão do ódio. Faz mais mal pra quem sente do que pra qualquer outro ser. Ira é uma atitude consciente e energética quando for realmente preciso. Tipo chutar a bomba de gás de volta pra polícia. Ou de resistir bravamente de mãos dadas contra o avanço das tropas de choque. Precisa muita coragem. Na verdade precisa mais coragem pra ir lá entregar flores, sentar no chão ou mesmo deitar perante os policiais, do que pra jogar pedras de longe. E é desses corajosos que precisam os animais, e não de porcos atiradores de pedra e coqueteis molotov.

Assim, a violência vai se configurar como a questão central dos movimentos – aqui e afora. E isso não é exatamente novo. Os porcos estão muito mal acostumados e super dispostos a impor suas vontades com muita violência. Alguns bichos apanham e a maioria se amedronta. Então o obstáculo às manifestações é muito parecido com o enfrentado pelos Indianos sob liderança de Gandhi, que depois de muita luta corajosa e, sim, sangue, derrubaram o império (que era muito pior do que as polícias atuais. Massacrava com balas de metal mesmo. Centenas duma vez só).

Essa é uma luta contra um inimigo fisicamente muito mais forte. Nas ruas, o braço do governo-eleito é a controladora e opressiva lógica militar. A violência institucional é hoje o braço governamental de carne-osso-e-arma, que está presente nas ruas, em geral mais nas áreas pobres, mas agora claramente, não apenas. Seja o governo destro, canhoto ou ambidestro, joga bombas, dá tiros, solta venenos e pesticidas em praças públicas e grotescamente aponta o dedo para o pulverizado adversário, covardemente acusando-o de vandalizar alguns itens de muito menor importância do que aqueles que ele próprio destrói, com força desproporcional e desnecessária – muitas vezes tirando vidas.

Portanto, qualquer update real do sistema operacional atual – pretensamente democrático na aparência dos navegadores, que tenta disfarçar a forma piramidal – que não resulte apenas em repaginação do software com novos CEOs e efeitos especiais, requer pessoas dispostas a enfrentar, nas ruas, o governo do 1%. Assim, o desafio é continuar mobilizando gente pra sair do afundamento depressivo do sofá e dos efeitos alucinógenos do controle remoto. Isso requer, nas ruas, manifestos sem violência. Porque precisamos re-construir o sistema em novo formato, e não apenas re-formar a pirâmide, que é o que a via violenta nos oferecerá.

Precisamos e queremos hardware e software novos. Pra isso, é necessário incomodar suficientemente o 1% que tá sentado no topo da pirâmide ordenando que se atirem bombas. Pra que ele se sinta realmente assustado e amedrontado, verdadeiramente apavorado de continuar sentado ali fazendo o que tá fazendo. E também pra assustar qualquer pretenso candidato a substituí-lo, para que também tenha medo de querer sentar no topo amanhã e então jogar suas bombas depois de amanhã. Pra romper o circulo vicioso da revolução suína orwelliana. Pra começar a desmanchar a pirâmide e deixar o mundo se organizar em rede.

Assim, parte crucial do desafio real me parece ser o enfraquecimento sistemático e contínuo do muque hipertrofiado do braço governamental, aproximando assim a comunicação do 99% com o 1% nos espaços públicos. Isso incluirá no médio prazo uma abertura popular não apenas das ruas e praças, mas de espaços políticos como o congresso nacional, assembléias legislativas e prefeituras. Assim começará a se horizontalizar a pirâmide nas cidades, que são nosso hardware. Assim como a comunicação já se horizontaliza na internet e fomenta, organiza e estimula a luta nas ruas. Mas só reestruturando ambos que existe chance de se mudar o sistema PRA VALER. Caso contrário, os animais serão uma vez mais espancados e esmagados pela revolução dos porcos. E o novo sistema suíno será apenas uma repaginação ridícula do atual programa piramidal hierárquico, e não o tão sonhado sistema em rede.

Focando no Brasil, se parece impossível e inimaginável enfraquecer o braço militar e ver os policiais gradualmente abandonarem seus postos de jogadores de bomba sem que a população se torne violenta, inspirem-se pelos vídeos e links abaixo. Afinal, os policiais também são bichos, e a maioria não é porco.

E sigam manifestando-se por suas causas, de olho na ação enérgica e corajosa, irada mas não raivosa. E sempre atento às manipulações que os porcos farão na sua luta pelo topo da pirâmide no meio da revolta popular desordenada.

OCUPAI BRASIL !

http://tabloidebr.terra.com.br/pm-que-utilizou-spray-de-agua-ao-inves-de-pimenta-e-afastado/

http://www.avaaz.org/po/petition/Apoie_a_Coronel_Claudia_Romualdo_de_Belo_Horizonte/?ffwPZbb&pv=13